quinta-feira, agosto 16, 2007

O erro do século... visto por um cronista do JN

Retirado da página pessoal de Emidio Gardé.

Caros Leitores, aqui deixamos um artigo de opinião do JN de hoje.


"O erro do século


Podem acusar-me de puxar a brasa para a minha sardinha. Mas nasci tripeiro, continuo tripeiro e tripeiro hei- -de entregar a alma ao Criador. Daí que não possa deixar de falar, quando hoje se assinala os 60 anos de tróleis em Coimbra, do erro crasso cometido na minha cidade.

Pouco faltava para as 21horas do dia 27 de Dezembro de 1997, quando um "Efaceque" simples entrou na recolha da Areosa. Baixou as varas e nunca mais as levantou. A STCP colocava um ponto final num historial de quase 50 anos de tróleis na cidade do Porto. As razões invocadas foram muitas, entre elas a de que as obras na Invicta condicionavam a circulação. Pura hipocrisia. Tenho 55 anos e sempre conheci o Porto em obras, muitas vezes no faz-desfaz-volta-a-fazer. Nas minhas saídas jornalísticas, conheci diversas cidades (na Suíça, na Hungria, por exemplo), com obras e... tróleis! Na Grécia, foi no lufa-lufa das obras para os Jogos 2004 que Atenas instalou uma moderna rede de troleicarros. Mas no Porto ganhou o lóbi dos autocarros, os tais que são movidos a gás e que poluem menos. Mas poluem!, ao passo que o trólei é 100% ecológico. O que se seguiu foi uma história que atingiu as raias do anedotismo, com muitas empresas interessadas na compra dos veículos mas sem que alguma pusesse o preto no branco. Após quase três anos de espera, embarcaram rumo a Almaty, a capital económica do Cazaquistão. Foram vendidos (14 veículos simples e nove articulados) ao preço da uva mijona - 20 mil contos, metade do valor que, meio século antes, tinha custado a instalação da rede de tróleis no Porto! Já nada havia a fazer. A STCP acabava de cometer o erro do século. Um erro que os tripeiros pagam e pagarão em forma de poluição. Resta--nos o exemplo de Coimbra "Os troleicarros são um motivo de orgulho e não de exclusão", disse, ao "Diário das Beiras", um elemento do Conselho de Administração dos SMTUC. Outra cidade, outra visão. Coimbra é, de facto, um lição. E soube aprender com os erros dos outros".